sexta-feira, 6 de maio de 2011

Refluxo: a doença da moda

Alimentação e obesidade têm aumentado a incidência do problema em adultos

Até pouco tempo, mães aflitas e preocupadas lideravam a busca sobre informações e tratamento para o refluxo gastroesofágico. Apesar de aparecer em qualquer idade, os bebês eram as maiores vítimas dessa doença, que provoca azias e queimação por causa do retorno de ácido gástrico do estômago para o esôfago.

Hoje, deixou de ser um tema infantil para entrar de vez nas consultas de adultos nos consultórios dos gastroenterologistas do País.

“O refluxo se tornou a doença da moda”, afirma a presidente da Sociedade de Gastroenterologia de Brasília, Adélia Carmen Silva de Jesus. A especialista explica que o problema já atingia adultos, mas a obesidade da população e os maus hábitos alimentares aumentaram a incidência. Além disso, o estresse da vida moderna agrava os sintomas.

“Outro fator que contribuiu para o aumento de casos é que conhecemos mais o problema e e por isso estamos diagnosticando mais”, reconhece.

Para identificar a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), os pacientes realizam endoscopias, esofagogramas e pHmetrias – exames que avaliam o estômago, o esôfago e a faringe e medem a quantidade de ácido que sobe do estômago para o esôfago. As endoscopias, primeira e mais comum das avaliações, falham na identificação de 50% dos casos de refluxo. Por isso, o médico não deve desistir da investigação facilmente.

Entre principais causas da doença, estão a hérnia de hiato (alteração na pressão do estômago no esôfago) e o relaxamento do esfíncter inferior do esôfago – esta é a válvula que deveria impedir a circulação do ácido gástrico. O movimento de abre e fecha do esfíncter é natural, porém, às vezes, ele pode ser comprometido. No caso dos bebês, o refluxo temporário ocorre porque eles ainda não têm controle suficiente dos mecanismos.

Confundidos pelos sintomas mais frequentes, muitos pacientes procuram os especialistas acreditando que sofrem de gastrite. Porém, os médicos ressaltam que o refluxo pode estar escondido sob tosses crônicas, pigarros, rouquidão, asma, alterações de sono, dor toráxica e até desgaste do esmalte dos dentes. O refluxo tem se tornado uma doença crônica muito comum entre a população.

“Na década de 1990, estudos mostravam que até 17% dos adultos já tinham sofrido com refluxo em algum momento da vida. Levantamentos mais recentes mostram que entre 10% e 12% da população já foi diagnosticada com a doença”, ressalta Ricardo Jacarandá, gastroenterologista do Hospital Universitário de Brasília (HUB).

Tratamentos

Antiácido: medicamento auxilia no tratamento do refluxo

A primeira receita dada pelos médicos que tratam de pacientes com refluxo gastroesofágico é a mudança de hábitos. Os especialistas recomendam refeições mais leves, livres de frituras, condimentos, chocolate, café, chá preto, álcool e refrigerantes. Outra dica importantíssima segundo eles é não passar mais de três horas sem comer. À noite, evitar jantares e, se comer, esperar pelo menos duas horas antes de se deitar.

Modificada a dieta, grande parte dos pacientes terá de encarar medicamentos diários, usados para diminuir a quantidade de ácido no estômago. “Ainda não temos remédios que atuem no relaxamento do esfíncter, por enquanto. Eles ainda estão em testes”, conta a presidente da Sociedade de Gastroenterologia de Brasília.

“O refluxo é uma doença crônica e cíclica. Os aspectos emocionais influenciam diretamente o controle dos sintomas”, ressalta.

Em alguns casos é recomendado cirurgia para corrigir o controle do esfíncter, mas a indicação só serve para quem tem boa resposta aos medicamentos. Além disso, há relatos de que, alguns anos depois, os sintomas podem voltar.

“A dificuldade é que muitos pacientes querem usar os remédios dois meses e parar, porque se cansam de usá-los. Mas isso não resolve”, garante Jacarandá.

Joaquim Prado, especialista em refluxo gastroesofágico do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, comenta que, se a doença não for tratada ou tratada de forma errada, podem aparecer complicações como ulcerações e sangramento.

Prado admite que os médicos de outras especialidades têm importante papel na identificação dos primeiros sintomas da doença e no encaminhamento para médicos especialistas, mas comenta que não são todos os médicos que têm informações suficientes sobre o tema.

“Os clínicos têm melhorado, mas ainda faltam mais conhecimentos para a conduta adequada. O melhor diagnóstico será dado por um gatroenterologista, que poderá tratar de modo correto a doença”, diz.

Fonte: Saúde IG

Por, Aline Medeiros
efeitosaude@yahoo.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário