terça-feira, 24 de maio de 2011

Santo remédio? Um é pouco, dois é bom, toda semana é demais.

[Parte 1/3]

Remédios que parecem "inofensivos" também oferecem riscos à saúde

Todo mundo tem em casa uma caixinha de remédios repleta de medicamentos para dores ou desconfortos que aparecem de última hora. Nestes momentos, parece até que ouvimos, no nosso inconsciente, uma voz materna resolvendo todos os nossos problemas: "Tá com dor de cabeça? Toma aqui esse analgésico, meu filho"; "Comeu demais? Ah, um antiácido resolve isso já , já"; Nariz entupido? Pra que o sofrimento? "Use um descongestionante para conseguir dormir um soninho tranquilo".

Mas o que não fica claro é que o uso contínuo de alguns tipos de remédios pode ser nocivo ao organismo, especialmente quando tomados sem critério. Dependendo do princípio ativo da medicação ou de fatores biológicos como idade, pressão alta ou diabetes, um simples incômodo pode se tornar um problema mais grave.

Para qualquer dorzinha existe um santo remédio? Os médicos avisam que não é bem assim. Ler a bula e evitar o uso de remédios à toa pode ser muito mais eficaz do que prevenir ou até mesmo remediar.

Remédios para dores em geral, gripe e febre

Para aliviar a dores com eficiência, dar um fim naquela gripe chata ou diminuir a febre, muita gente opta por analgésicos e anti-inflamatórios disponíveis às pencas nas gôndolas das farmácias. Divulgados amplamente pela mídia, este tipo de remédio é bem aceito e passa longe de exigir uma leitura de bula ou consulta a um especialista.

Mas algumas restrições devem ser observadas para que este tipo de medicação não se torne uma muleta e passe a ser utilizada toda semana.

Segundo a Dra. Maria Elisa Gonçalves Ramos, que é enfermeira e professora da Faculdade de Medicina da Funda

ção ABC, os remédios que têm como princípio ativo a dipirona devem ser consumidos com restrição, pois, caso a pessoa não saiba que tem alergia ao medicamento, pode sentir grande coceira pelo corpo e desconforto respiratório. "Uma das complicações mais graves neste sentido é a Síndrome de Steven Johnson, caracterizada por um conjunto de sinais como queimaduras para o corpo e reações severas como bolhas e o fechamento da glote", explica.

Segundo o Dr. Paulo Olzon Monteiro da Silva, chefe de Clínica Médica da Unifesp, a dipirona também pode baixar um pouco a pressão arterial e causar certa moleza quando usada com muita frequência. Por isso, ele avisa: "É preciso, em primeiro lugar, saber diferenciar a gripe de um resfriado, que é caracterizado por coriza e dor de garganta passageira, e dura de três a quatro dias. Quem está com resfriado, não tem que tomar remédio nenhum", conclui.

Um caso muito comentado pela mídia foi o dos analgésicos com base em paracetamol, que, segundo pesquisas, podem causar danos ao fígado. O médico explica que este tipo de remédio deve ser administrado com cautela, especialmente durante os surtos de dengue, quando são largamente receitados. "Den

gue virou sinônimo para se tomar o paracetamol, mas ninguém fala dos efeitos tóxicos desta medicação."

Já o Dr. Pedro Genta, clínico geral da Beneficência Portuguesa de São Paulo, alerta para os medicamentos que têm como princípio ativo o ácido acetilsalicílico, que podem trazer, com o uso prolongado, sangramentos gástricos, problemas renais e de pressão. "Este tipo de medicação tem que ser tomado com cautela, especialmente pelos idosos, pacientes hipertensos, diabéticos ou com alguma doença renal. Quanto maior o tempo de uso, maior o risco", alerta.

Antialérgicos

Os antialérgicos, geralmente utilizados para controlar a reação do organismo a alguma substância, podem trazer complicações quando combinados com algum outro tipo de medicamento. O Dr. Pedro Genta avisa que os maiores riscos acontecem quando os antialérgicos são combinados a remédios para gripe ou dores em geral, pois, a longo prazo, podem provocar a alteração da pressão arterial e, em casos mais graves, o desenvolvimento de uma úlcera gástrica.

Remédios para cólicas

De acordo com a Dra. M a ria Elisa, a principal recomendação com relação aos remédios que diminuem a cólica tem a ver com a persistência da dor. Se o desconforto é constante é preciso, antes de se medi car, procurar um especialista. "As cólicas são ocasionadas pelo aumento do peristalse, ou seja, é um movimento que o intestino está fazendo para eliminar alguma coisa. Se você está tomando algo para conter a dor, está impedindo que o seu organismo o elimine", explica.

Para aliviar este tipo de problema, geralmente são indicados remédios que têm como base o butilbrometo de escopolamina , um medicamento antiespasmódico que destina-se ao tratamento de dores, cólicas, espasmos e desconforto abdominais, segundo a assessora técnica do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (CRF-SP), Amouni Mourad.

Como reações adversas, ela indica, podem ocorrer sensação de secura na boca, transtornos da acomodação visual, taquicardia, vertigem e, potencialmente, retenção urinária.


Calmantes


Embora a venda de calmantes só seja permitida mediante receita médica, há quem consiga burlar a lei e "roubar" pílulas de algum familiar próximo que use remédios ansiolíticos. Pessoas buscam calmantes para aliviar sentimentos como ansiedade, tensão, medo, apreensão, intranqüilidade, dificuldades de concentração, irritabilidade, hiperatividade e insônia. Muitas vezes, ao primeiro sinal de falta de sono, o calmante é visto como a única alternativa para salvar a noite.

Os especialistas são unânimes em afirmar que, a longo prazo, o principal problema ligado a essa prática é a dependência que estes remédios podem causar. De acordo com a Dra. Maria Elisa, sem a recomendação médica, não há como o paciente saber se de fato pode ingerir este tipo de medicamento: "Ansiolítico é complicado porque se ele desligar somente a parte neurológica responsável pelo sono, a pessoa não vai ter problema nenhum. Mas não há garantia de que ele desligue apenas essa área." Ela explica que, por este motivo, é um médico que tem que indicar e testar essas medicações, pois ele vai começar com doses leves e, a partir disso, observar os efeitos.

O Dr. Pedro Genta alerta para a incidência de problemas respiratórios, intoxicações, e, especialmente, dependência. "Este tipo de medicamento, quando tomado em doses exagerados, oferece risco de morte", explicou.


(Continua...)





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